O tempo passa e nem damos por isso. Está a fazer um ano que as nossas vidas se separam, em que isso me levou a deixar de ter planos, em que me perdi dele e encontrei a Dora. A Dora que decide por ela e para ela. A Dora que deixou de justificar os seus actos e passou a tomar as suas decisões porque quer e como quer.
Mas a verdade é que foi estranho acordar sem alguém a desejar-me bom dia, assustador deitar com a certeza de que não o iria ver no dia seguinte.
Deprimente passar os domingos a pensar nele, nos “bons domingos” que passamos juntos, quer fosse a passear quer fosse refastelados no sofá a ver um bom filme.
Chegou a ser desesperante saber que não o iria ter à minha espera quando chegasse a casa.
A quem iria eu contar as minhas pequenas alegrias e frustrações. Quem me iria dizer “Tem calma, tudo vai correr bem!”, “Eu estou aqui para ti…”… quem iria dar aquele abraço apertado de quem sentiu a minha falta.
O que fazer as fotografias espalhadas pelo quarto?
Como tirar a aliança?
Como voltar a vestir a minha camisola preferida oferecida por ele?
Como o tirar da minha cabeça, do meu coração, da minha vida?
Não tirei… apenas aprendi a viver com a sua ausência.
A sensação de vazio, a vontade de gritar, de chorar… de partir tudo!!
A revolta por não lhe poder falar, o orgulho que me impedia de lhe ligar.
Passar nos sítios onde era habitual irmos, o café que costumávamos frequentar…
E as conversas de horas, os risos, as lágrimas, os abraços, as caminhadas de mãos dadas, as loucuras e aventuras, as confidências, a partilha do dia a dia, …desapareceu.
Custou, levou muito tempo, mas foi superado.
O espaço que ele deixou começou a ser ocupado pelos amigos que tudo fizeram para que nunca me sentisse sozinha. Por momentos conseguiam, mas havia sempre um vazio que ninguém conseguia tapar.
Com o tempo a dor acalmou, o desespero passou, mas o seu espaço continuou ali… vazio.
O tempo continuou a passar…
E aqui estás ele de novo.
Postura diferente. Mais maduro.
O mesmo confidente, aquela pessoa que nos conhece por dentro e por fora e sabe dizer a palavra certa no momento oportuno. Como senti falta disto durante este tempo em que estivemos afastados!
Mas a vida fez-nos tomar rumos opostos e neste momento eu quero coisas diferentes, novos desafios, novos voos,…
Agora procuro a forma de ser sua amiga, o que não é tarefa fácil… continuam a existir gestos que nos são tão familiares e se tornam difíceis de evitar, olhares que querem dizer muito… como é que eu vou ser amiga de quem já tanto amei?